top of page

Ansiedade de Separação e Hiper-Apego em Gatos

A relação de dependência entre gatos e seus tutores e as consequências emocionais dessas questões comportamentais


O vínculo entre seres humanos e gatos é uma relação complexa, que pode levar ao desenvolvimento de problemas comportamentais relacionados à dependência emocional. Contrariando a crença popular de que os gatos são criaturas independentes e autossuficientes, os laços emocionais entre gatos e tutores podem se tornar profundos e intensos, o que pode resultar em um quadro de hiper-apego.


O hiper-apego em gatos se manifesta por meio de um apego excessivamente intenso ao tutor. Gatos com hiper-apego muitas vezes seguem seus donos pela casa, demandam atenção constante e podem apresentar a dependência para utilização de algum recurso, como apenas comer se o tutor estiver próximo, por exemplo. Esses comportamentos podem ser confundidos com carinho, mas quando atingem níveis extremos, podem se tornar prejudiciais, tanto para o gato quanto para o tutor. O felino pode se sentir desconfortável e estressado na ausência do tutor, enquanto o tutor pode encontrar dificuldades em realizar suas atividades diárias devido à constante demanda de atenção e necessidade de presença.


Essa dependência pode gerar outros distúrbios comportamentais como: vocalização excessiva, eliminação em locais inadequados, alopecia por lambedura (se lamber promovendo falhas nos pelos), compulsão alimentar ou inapetência, entre outros.

A ansiedade de separação em gatos, também conhecida como “problemas relacionados à separação” é uma condição que pode estar relacionada ao hiper-apego. Assim como em cães e humanos, os gatos também podem experimentar ansiedade quando são separados de seus tutores. O quadro de ansiedade de separação pode se manifestar através de miados excessivos, comportamento destrutivo (como arranhar móveis ou objetos), marcação de território com urina e até mesmo sintomas físicos, como vômitos e diarreia.


Mas se popularmente os gatos são considerados como independentes, por que alguns estão se tornando tão dependentes de seus humanos a ponto de adoecerem física e emocionalmente?


Em 2019, uma pesquisa conduzida pela Universidade de Oregon realizou um experimento comumente utilizado em cães e bebês. Esse experimento revelou que o nível de vínculo emocional de um gato é comparável ao de uma criança. Os gatos demonstraram maior segurança e confiança ao explorar um ambiente desconhecido na companhia de seus tutores, e manifestaram ansiedade e estresse quando os mesmos saíam do ambiente.


Pesquisas têm abordado esses fenômenos comportamentais em gatos de maneira mais aprofundada. Um estudo recente, realizado por Kermam e colaboradores (2023), revelou que além de comportamentos como destruição, eliminação em locais inadequados e hipervocalização, comportamentos reativos prévios à saída do tutor também podem ocorrer como sinal de ansiedade de separação.


Isso nos mostra que os gatos também formam laços emocionais intensos com seus tutores e, em certos casos, podem desenvolver formas de apego que resultam em desafios de excessiva dependência e dificuldades em estabelecer relacionamentos saudáveis.


Potenciais Causas


O desenvolvimento do vínculo de hiper-apego pode estar relacionado à:


  • Fatores ambientais: como por exemplo falta de recursos e estímulos ideais, mudanças frequentes, déficit de interação social positiva;


  • Relação tutor-gato: longos períodos de ausência do tutor, grande ênfase nos momentos de despedidas e chegadas com comemorações e fornecimento de recursos valiosos para o gato de imediato, atender requisição de contato e recursos além das vocalizações;


  • Predisposições individuais: gatos idosos, experiências prévias negativas, alto contato durante idade de período sensível, desmame precoce, entre outros fatores.


Tratamento


Quando os animais têm suas demandas emocionais, mentais e físicas atendidas de maneira previsível e consistente, a probabilidade de desenvolver hiper-apego é menor. Portanto, o tratamento deve ser feito com auxílio de profissionais (veterinários e comportamentalistas de felinos), concentrando-se em restabelecer o suprimento completo dessas demandas, através de manejo do ambiente, modificações comportamentais e terapias complementares.


Para lidar com o hiper-apego e a ansiedade de separação em gatos, é essencial adotar abordagens que considerem as características individuais do animal.


A introdução de rotinas estáveis, o enriquecimento ambiental por meio de brinquedos interativos e locais de escalada, e a promoção de espaços seguros para o gato se refugiar são estratégias recomendadas. A adaptação gradual a momentos curtos de separação e recompensas pelo comportamento tranquilo também podem ser eficazes.


Quando esses comportamentos afetam significativamente a vida do gato ou do tutor, é indicado procurar a orientação de um especialista em comportamento felino.


O conhecimento científico atual e as abordagens práticas podem proporcionar uma compreensão mais profunda dessas questões complexas, auxiliando no bem-estar e harmonia da relação entre gato e tutor.


Nós da Wellfelis estamos à disposição para auxiliá-los com nosso atendimento de terapia comportamental felina.



Por:


Dra Juliana Damasceno

Tamires Ramos


Equipe Wellfelis



Refererências Bibliográficas:


KERMAN, Kaan et al. Behavioural responses to separation from human companion in the domestic cat: A survey-based study. Behavioural Processes, v. 210, p. 104892, 2023.


VITALE, Kristyn R.; BEHNKE, Alexandra C.; UDELL, Monique AR. Attachment bonds between domestic cats and humans. Current Biology, v. 29, n. 18, p. R864-R865, 2019.


310 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page